ACROYOGA - POSADA NORTE SUR

"A princípio, o tempo passado com a mulher selvagem é difícil. Recuperar o instinto ferido, eliminar a ingenuidade e com o tempo aprender os aspectos da psique e da alma. Guardar o que tivermos aprendido. Não voltar as costas. Defender aquilo que representamos. Tudo isso exige uma resistência mística e infinita."

 - trecho do Capítulo 14 - do livro Mulheres que Correm com os Lobos de Clarissa Pinkola Estés

Se existisse uma fórmula mágica universal para que do dia para a noite a gente começasse a falar de yoga e de meditação nas escolas ... se a gente quiser transformar toda nossa existência .. ensinar sobre arquétipos, ser parte e se dispor a fazer parte .. tantas coisas maravilhosas podemos encontrar ... tantas coisas não sabia eu que iria encontrar. 

Caminhar pela Plaza de Milla, enquanto sonhava acordada com Simón Bolívar, com os indígenas que ali existiram, e pensava no Orinoco Delta .. pensaba en lo que soy, de donde vengo, e sentir o coração cheio de vida e pulsando.

Encontrar uma pousadinha que logo se tornaria refúgio e cenário dos encontros mais unusitados como conhecer uma amiga japonesa - Ai Guri - que ali morou por um longo período.

A "Posada Norte Sur" era administrada pela Shirley, e às quintas-feiras às 20h realizava-se a vivência de baile afrocaribeño. Nessa noite especificamente fizemos alguns registros da aula de acroyoga ministrada por um professor também amigo da pousada, que havia chegado de Caracas naquele mesmo dia.

A palavra Yoga significa literalmente "união" ou "fusão". Mais do que um conjunto de posturas ou exercícios físicos, é uma ciência muito mais comum do outro lado do globo, do que aqui no nosso continente, e tal ciência determina a natureza somos e do que queremos ser. De todas as coisas no mundo, de todas as coisas que um ser humano pode fazer, tudo essencialmente é uma expressão de quem se é. Uma pessoa escreve uma canção, pinta um quadro, outra dança, outra escreve, e o que quer que façamos é com o intuito de expressar, colocar para fora, no mundo. Você pode ter consciência disso, ou não. Yoga não é uma expressão. É um processo, um método, um meio, uma ferramenta, uma tecnologia.

Esses são registros atemporais - e no calendário gregoriano, o ano era 2015.

Fluxo e muito movimento. Hoje ao olhar com carinho para essas fotos vejo que a Laisinha de 21 anos escolheu bem seus caminhos. Tudo o que nos atravessa nos transforma. Tecido acrobático é força. 

Meu desejo eterno de ir embora com o circo talvez seja um desejo eterno de sempre poder ser aquilo que se é.

No topo da nossa pirâmide: Shirley! Mulher medicina nata, corpo criador ressoante - acho que me ensinou muito mais em seu silêncio e atitude, y forma de bailar, em administrar sua vida e pousada com sua querida filha UMA e o francês. Na base da nossa pirâmide uma outra mulher que em muitos momentos foi base e eixo da minha vida - e ainda é de certa maneira, mesmo após alguns anos - Yesmerlin Quintero, lo que tenemos es de otro lugar - gracias por todo y por tanto.

As belas shakti y el tamborcito - feminino que não fere, acolhe, transmuta, ensina.

Em busca de conhecimento, (re)conexão, trilhar o caminho do coração, curar, agradecer.
Lembro da cozinha ampla, partilhada, lembro dos chás e das noites estreladas que nos recebiam convidando a dançar mesmo.
Lembro que entre uma coreografia e outra cada uma de nós emitia um som, que deveria ser repetido pelas outras e assim consecutivamente .. lição número dez: uive sempre!

Ao final de uma bela jornada é comum não sabermos como nos despedirmos.

Esse poderia haver sido um encontro como qualquer outro. Poderíamos nunca termos visto uns aos outros. Como poderíamos nos reconhecer de longa data - de outros mundos.

Poderíamos repetir o que vivemos ali por vários outros dias ou poderíamos nunca mais reunirnos. Mas o importa é que em alguma dimensão a gente ficou para sempre, ali.

E tudo que a gente aprendeu, ficou para sempre, aqui.