TELEFERICO MUKUMBARI
A primeira vista de quem entrou na cabine e pensou: será que eu volto?
O emblemático olhar de Chaves me encarava como quem dizia: você está percebendo? O que está vivendo?
O emblemático olhar de Chaves me encarava como quem dizia: você está percebendo? O que está vivendo?
Na carreira universitária que escolhi cursar, num país aleatoriamente selecionado pelo COSMOS para que eu por ali passasse, existiram muitas etapas. E dentro desse processamento de dados de ser e estar ali como estrangeira, estudante universitária, e professora de português, existia também todo o processo da faculdade em si: do primeiro ao sexto semestre incríveis desafios - como o de fazer serviço comunitário turístico no quinto semestre, e minha escolha foi essa aí.
Mérida sempre foi conhecida como a cidade dos cavalheiros. Uma cidade culturalmente turística, com lugares incríveis e com muito a ensinar.
(colegas de profissão irão me julgar hahaha mas calma gente, eu era apenas uma estudante nessa época)
O Sistema Teleférico Mukumbari é o teleférico mais alto e o segundo mais longo do mundo, com uma extensão de 12,5 quilômetros, atingindo uma altura de 4.765 metros acima do nível do mar, tornando-se uma obra de engenharia tradicionalmente única e com mais de 50 anos de história. Vai da "Estación Barinitas" - situada na Plaza Las Heroínas, ao topo do "Pico Espejo" dentro do Parque Nacional Sierra Nevada nos Andes Venezuelanos, especificamente no estado de Mérida, Venezuela.
A "Plaza Las Heroínas", está situada no centro da cidade.
Toda a estrutura do teleférico foi fechada em 2008 por razões políticas e também para sua modernização e reforma; e foi reaberto em 29 de abril de 2016, na fase pré-comercial, onde ali também estive, realizando um Projeto de Sinalização Peatonal e Veicular para a melhoria local do turismo na região. Finalmente foi reaberto ao público em 7 de Outubro de 2016 com uma infraestrutura pra comunista nenhum colocar defeito hehe
Se estiver planejando uma viagem à Venezuela nos próximos anos, trate de incluir no roteiro uma visitinha à cidade de Mérida e ao Parque Nacional Sierra Nevada, local onde se encontra o Teleférico de Mérida e seus mais de quatro mil metros de altura.
Nessa época eu já morava há dois anos ali - mas existe um mar de sensações e sentimentos nessa história de ter vivenciado o que eu chamaria pretenciosamente de "os melhores anos da minha juventude" num país sob um regime ditatorial. Os interesses eram outros, os passatempos outros, as descobertas outras, e não por ser um país que passava por um longo período de escassez, mas por eu estar ali: a quinta geração da etnia tupiniquim, eu, representante de todos os que haviam vindo antes de mim, eu, que já muito sabia sobre mim mas pouco sabia sobre os seus - e que nesse caminho de descobertas tanto iria encontrar.
Nessa época eu já morava há dois anos ali - mas existe um mar de sensações e sentimentos nessa história de ter vivenciado o que eu chamaria pretenciosamente de "os melhores anos da minha juventude" num país sob um regime ditatorial. Os interesses eram outros, os passatempos outros, as descobertas outras, e não por ser um país que passava por um longo período de escassez, mas por eu estar ali: a quinta geração da etnia tupiniquim, eu, representante de todos os que haviam vindo antes de mim, eu, que já muito sabia sobre mim mas pouco sabia sobre os seus - e que nesse caminho de descobertas tanto iria encontrar.
Quando me refiro aos anos que passei ali lembro-me claramente de todos os dias que acordei cedo e fui de ônibus pro Instituto Universitário Dr. Cristóbal Mendoza, de todos os dias que almocei no restaurante vegetariano do clube de atletas da cidade, das reuniões do clube poliglota aos sábados, das aulas de alemão do professor Jose Ali - Danke für diese Zeit!
Lembro-me das arepas de trigo, del queso ahumado, também das aulas de francês do professor Jose Parada - e de como ele virou meu aluno de português depois - uma grande e bonita amizade, obrigada por tudo! Mercí pour ce temps!
nota pessoal e talvez blog sirva pra isso: quando eu li aquele livro "A Menina Que Roubava Livros" fiquei muito impressionada com a figura de um senhor caridoso e compassivo que possuía em sua casa muitos livros, e que ao subir uma escada gigante de madeira em espiral, logo perto da porta de entrada chegaria na ante-sala. Acontece que a casa do professor Jose era exatamente assim: e o mais incrível é que ele sempre recebia a mim e a outro amigo com chá ou café, e no almoço macarrão ou alguma outra especialidade da casa. Talvez esses tenham sido os sábados mais caridosos e melhores aproveitados a nível intelectual em toda minha vida .. as aulas de humanidade que eu recebi com você professor, me ensinam a olhar a vida de outra forma!
Trajeto I
- Estación Barinitas (1.577 m)
- Estación La Montaña (2.436 m)
O embarque começa na Plaza Las Heroinas, na Estação Barinitas. Ali pode-se comprar os ingressos - sempre com bastante antecedência e moeda local (dólares também são aceitos).
No espaço, uma praça de alimentação com comída típica local, pastelitos, café e chocolate quente e deliciosos sucos naturais.
Trajeto II
- Estación La Montaña (2.436 m)
- Estación La Aguada (3.452 m)
Selva nublada altiandina até o alto dos páramos, onde emerge "el Pico El Toro" (4.756 m). El Parque Nacional Sierra Nevada e mais ao norte o Parque Nacional Sierra de la Culata, em pleno coração dos Andes Venezuelanos.
Trajeto III
- Estación La Aguada (3.452 m)
- Estación Loma Redonda (4.045 m)
"Los páramos." Aqui pode-se observar mais de 86 espécies de frailejones, uma planta felpuda como camurça e exclusiva da cordilheira dos andes.
Trajeto IV
- Estación Loma Redonda (4.045 m)
- Estación Pico Espejo (4.765 m)
- Pico Bolívar (4.980 m).
A chegada até a última estação exige bastante esforço respiratório. Não é aconselhável para asmáticos, cardíacos, hipertensos ou pessoas que possuem ansiedade.
Por sorte nesse tempo eu era xóven e ainda não possuía TAG :)
Mas alguém duvida que eu ainda volte lá?
Toda a subida envolvia trocas de cabines e caminhadas pelos interiores de cada estação. Na foto à esquerda foi o branco da neve na parte de cima da cabine vizinha à que eu estava que confirmou o que minha sorte de principiante anunciava: nevasca na montanha, eu iria conhecer a neve!
Nessa época não existiam stories, e a funcionalidade do Instagram era outra coisa rs
(mas olha esses registros)
(mas olha esses registros)
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Se eu pudesse descrever a sensação de estar num dos lugares mais altos desse mundão de meu deus seria algo como: imensidão. Respirar o ar mais frio e puro da vida. Pachamama vibra.
Às vezes me pergunto se aconteceu alguma coisa no meu cérebro com todo aquele ar rarefeito e tanta pressão pela altitude, mas absolutamente nada a reclamar, apenas agradecer, pois de onde eu venho quando paro pra pensar, nem eu sei como fui parar ali.
Cada lugar deixa na gente um ensinamento, una enseñanza.
A Venezuela me ensinou que temos a capacidade de lidar com as maiores adversidades e escolher ver o outro lado, o lado do motivo que está por trás, o lado de infundir energia, de co-criar, reforçar a vida, sem atrapalhar o que precisa morrer.
Naquela época com um estilo de vida que me transformaria no que sou hoje confesso que eu não pensava sobre isso. Na verdade costumo dizer que naquela época eu era um corpo latino perambulante, explorador.
Hoje sou um corpo perambulante-observador. Que reflete. Como espelho.
Às vezes me pergunto se aconteceu alguma coisa no meu cérebro com todo aquele ar rarefeito e tanta pressão pela altitude, mas absolutamente nada a reclamar, apenas agradecer, pois de onde eu venho quando paro pra pensar, nem eu sei como fui parar ali.
Cada lugar deixa na gente um ensinamento, una enseñanza.
A Venezuela me ensinou que temos a capacidade de lidar com as maiores adversidades e escolher ver o outro lado, o lado do motivo que está por trás, o lado de infundir energia, de co-criar, reforçar a vida, sem atrapalhar o que precisa morrer.
Naquela época com um estilo de vida que me transformaria no que sou hoje confesso que eu não pensava sobre isso. Na verdade costumo dizer que naquela época eu era um corpo latino perambulante, explorador.
Hoje sou um corpo perambulante-observador. Que reflete. Como espelho.
Perguntar e tentar aprender mais a respeito da natureza da vida-morte-vida e do funcionamento dessa passagem terrena, tão breve. Aprender acerca da capacidade de poder compreender todos os elementos da natureza cíclica, selvagem.
As filosofias de vida e de mundo e os saberes que existem dentro do universo - e por isso co-existem; poucos são acessados por nós, e muito são valorizados pelos povos originários.
É uma sabedoria complexa, potente. Que refaz a nossa caminhada.
E essa sou eu conhecendo a neve. Quinto semestre da faculdade, ano 2016. Me olho nos olhos e hoje penso: que bom que eu fiz isso - que bom que eu me levei ali! Os povos indígenas existem e resistem há séculos. De formas resilientes, com suas fórmulas sustentáveis e regenerativas de continuar esse trabalho de abrir espaço, e principalmente regenerar GAIA, a partir de um novo modelo de educação e uma nova forma de pensar - e de consumir.
É sobre ser e estar de uma bela forma, no território que a gente ocupa.
É sobre perceber que chão é esse que a gente pisa? Quem pisou antes? O que nos trouxe aqui?
Nesse caminho a trilhar, e em todo o caminho já trilhado, reconheço cada passo, cada degrau.
Nesse dia aos pés de La Virgen de Las Nieves, padroeira dos alpinistas, eu percebi: tá só começando!!
Essa foto foi antes de descer. Passava um filme na minha cabeça. Como era especial estar ali. Como era transformador e revolucionário. E como eu havia acordado cedo. E como carioca não conhece frio rs
Somos muitas personalidades, muitos arquétipos. Em cada um de nós existe um ser que se relaciona e conversa com tudo ao redor. Inclusive com diferentes partes de nós. Com diferentes saberes. Diferentes dimensões. Diferentes interesses e formas de reagir. Diferentes habilidades.
Somos muitas personalidades, muitos arquétipos. Em cada um de nós existe um ser que se relaciona e conversa com tudo ao redor. Inclusive com diferentes partes de nós. Com diferentes saberes. Diferentes dimensões. Diferentes interesses e formas de reagir. Diferentes habilidades.
Nossos corpos são influenciados pela forma como estão equalizados. Vibramos o quê?
Eu defendo muito as discussões de temas que devem ser o espírito do nosso tempo, esse espírito de transição do mundo que a gente têm pro que a gente quer SER.
Nesse dia eu fiz muita tradução simultânea, percebi como seria a dinâmica daquela infraestrutura tão diferente de tudo o que eu já tinha visto e trabalhado, preenchi planilhas, mandei e-mails, fotografei, fui um pouco estudante e um pouco turista, passei frio, entreguei relatório, tive dor de cabeça ou mal de páramo, como dicen.
Gracias Teleférico Mukumbarí, apesar da seriedade, mais parecia diversão.
Gracias vida, por permitirme estar aquí.
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