O MOVIMENTO É ARTE

"Movimentos artísticos são correntes da arte em que um grupo de pessoas compartilha das mesmas ideias, tanto esteticamente quanto ideologicamente, e se unem com objetivos comuns."

Será?

Essa história, assim como todas as outras, começa bem antes de que eu faça parte dela.

O Movimento é Arte é uma organização de seres humanos que se uniram a partir de um objetivo comum: fomentar a cultura em instituições e espaços públicos.
O grupo pensa na arte de forma mais abrangente, promovendo vivências através de atividades sociais, culturais, educacionais e de saúde. Meu primeiro contato com esse movimento foi no espaço Canela Rural, na Feira Ecológica e Cultural de Canela - ou para os mais íntimos: a feirinha. A feirinha é um coletivo que atua no cosmos - do micro para o macro - a partir da conscientização da alimentação orgânica, da agricultura familiar, e da agroecologia.
A primeira vez que estive naquele galpão foi no ano de 2016, quando uma senhora que me recebeu em sua casa por algumas semanas através de um aplicativo, te amo Florence, me convidou para assim conhecer mais da comunidade local. Assim como qualquer outra atividade do cotidiano, aos sábados pessoas ocupavam aquele espaço com sua banca, seu trabalho da semana, sua colheita. Entre primaveras e invernos, logo a relação entre agricultores e clientela se estreitou, e a movimentação que eu via ao redor me acolheu. De início cada pessoa parecia ter sua função já pré-determinada, mas com o tempo, percebi que assim como todo movimento independente, a feirinha era feita por cada um, todo dia - uns cuidando dos outros.
Em algumas ocasiões dispunhamos de música ao vivo. Soa muito estranho alguém com vinte e seis anos escrever dispunha? Num mundo não-pandêmico éramos felizes e sabíamos. Encontrar os amigos a cada sábado, tomar um chimarrão, fazer a feira orgânica da semana. Quantos sábados não passei ali, entre conversas sobre coisas que importam, tentativas de salvar o mundo - ou pelo menos o nosso mundo (nosso entorno) - e tantas outros temas polêmicos que terminavam em algum carteado. Agradeço muito a todos que por ali passaram, a Heloíza e ao Sr. Peri sempre tão gentis. Ao pessoal do Ecoboteco. A Faêsa e a Gabriela, mulheres desse tempo, que nem sabem mas são minhas musas inspiradoras - quando eu crescer quero ser revolucionárias como vocês - e ter uma kombi. Obrigada a cada agricultor, a cada semente, a todas as estações, a cada alimento de verdade. Como boa carioca, logo quando cheguei aqui sempre dizia que na cidade de Canela faltava praia e carnaval. A questão da praia tive que aprender a abrir mão, já o Carnaval ...
No ano de 2019 surge o Bloco Sebo nas Canelas, rico em experiências musicais, ensaios e oficinas - numa mistura de afoxé, maracatú, marchinhas, xequerê e cânticos. Com direito a estandarte - confeccionado pela amiga e talentosa artesã Potira Moura. Parecia um sonho!
Lembro do dia exato, era de tardinha e eu caminhava pelo centro da cidade quando ouvi algo parecido a um rufar de tambores - e meu coração naquele exato momento vibrou junto.
Quanto mais forte a batida, mais alto é o som.
E de muitas maneiras, algo me dizia que a gente ia fazer muuuito barulho junto.
(bem similar aquela sensação de "encontrei minha tribo", sabe?)

Seguindo a música como quem corre atrás de um trio elétrico no Carnaval de Salvador, lá estava eu: num ensaio percusivo que até hoje não sei como fui parar - no espaço físico do ponto de cultura Kombinação.
Sutil como uma batida de trem (e só quem já viveu sabe) posso claramente ter dito: "deixa eu ser amiga de vocês?" ou "vocês são os amigos que eu estava procurando!!" .. canceriana né?
E esse foi o início de tudo. Na mesma semana descobri que aquelas eram oficinas ministradas pelo professor Adilson Fontoura, agente cultural, pesquisador, percussionista estudioso e amigo. Descobri que ali acontecia o clube do livro, saraus, eventos literários e artísticos, que tinha malabarista, perna de pau, palhaços - um céu na terra.
Não sei se a Fundação Cultural de Canela me escolheu, ou se eu a escolhi - ou se por alguma razão maior e mágica meu caminho se cruzou ao dela e ali, e em mim, tantas coisas foram semeadas, e tantas outras floresceram. Grata ao Fernando Gomes e tantos outros pelo espaço.

Canela é uma cidade com 
45.488 habitantes pelo senso IBGE do ano passado. Aqui vivemos a 837 metros em relação ao nível do mar. Sempre penso no nível do mar. 
Temos um hospital, uma delegacia, uma igreja matriz, alguns centros holísticos, escolas e muitos parques naturais. A cidade tem como lema: "Paixão Natural". E dessa paixão pela natureza, pelo planetinha que a gente mora, surge tudo o que gente quer que nasça no mundo através da gente. Através da nossa energia.
Eu sempre me vi como cidadã global, como voluntária das boas causas - afinal o catolicismo, o Movimento dos Focolares, e logo o budismo, me impulsionaram a isso - mas a experiência, a sensação de coletivo que as motivações do "fazer pelo social" causaram em mim era de um cunho muito maior.
Quando realizei meu primeiro voluntariado na Jornada Mundial da Juventude em 2013 senti que eu poderia dedicar de fato a minha vida como peregrina, como buscadora, como fazedora de pequenas grandes coisas. Trabalho de formiguinha. E nunca pensei em me retirar do Rio de Janeiro, da periferia, da região metropolitana ou sequer do país.
Mas a necessidade de trabalhar e tocar a vida, faculdade, aulas .. fizeram eu percorrer todo esse caminho, numa equação muito doida, que resultou no aqui e agora. Na Cidade de Canela.

O movimento é arte. E o nosso tempo, é arte.
No que investimos tempo?

Hoje revisitando as fotografias dos últimos dois carnavais percebo como somos privilegiados, felizes aqui. Percebo como fazemos a diferença e como somos incrivelmente fortes e imparáveis juntos. Percebo como nosso trabalho tem base, estrutura, forma, propósito, impacto. E sinto orgulho da nossa potência. Orgulho do caminho e da jornada de cada um.

O resgate do carnaval de rua de Canela, assim como ocupar a Estação Campos de Canella, foi um movimento muito maior do que a gente esperava. Se no primeiro ano nosso bloco não saiu, no segundo ano ele não só foi um bloco andante como saiu na TV, no noticiário, no Facebook e o principal: na boca da galera. Pode dar um google aí rs

Quando começamos a planejar, a fazer a estrutura, o desenho do que seria o nosso carnaval nos deparamos com um incrível legado de décadas anteriores. Haviámos na verdade encontrado pegadas.

E assim nosso coletivo ia crescendo em quantidade, qualidade e intenção.
Várias foram as reuniões que estabeleceram nosso maior vínculo: a vontade de fazer valer estar aqui e havermos nos encontrado diante da sabedoria do tambor.
2019 foi um ano do "vamo?vamo!" e realizamos também a Festa Junina "Um Arraiá dus Bão" que embalou pés e corações com muito quentão, música campeira e forró.
Lembro bem, que de todas as personas que habitam em mim, nessa época eu me dividia bastante entre a função que ocupava no hotel onde trabalhava - jornada dupla, cansaço, demandas, e muito aprendizado. 
E aí, toda a correria, todo o o planejamento do nosso calendário 2020 precisou ser engavetado.
Todos nos reinventamos para seguir vivendo e entendendo o que somos em essência.
Todos aprendemos ainda mais a valorizar o simples. La simpleza.
Fomos pegos de surpresa por uma pandemia. 
Vai fazer um ano que vivemos essa época, na história da humanidade.
(e ainda voltamos para buscar a máscara que esquecemos, antes de sair de casa)
Cesta básica, mandala de alimentos, orgânicos, hidropônicos, centramento, direção. 
Tudo isso percebi ao ver onde de fato estava minha rede de apoio real - e quem eu apoiava, de quem era eu essa rede.

Quando penso em escolhas e no que escolhemos a cada dia ao acordar e ao deitar nossa cabeça no travesseiro, penso em possibilidades. Em servir, não ferir, amar.

A todos os que vieram antes de mim, gracias.

Sou grata ao deus-UNIverso e a essa jornada que escolhi vivenciar, nesse planeta doido e lindo.
Que possa eu, desde minha infinitude e pequenez, transformar a mim, e deixar também pegadas.



Recordar é viver:
https://canela.rs.gov.br/noticia/programacao-de-carnaval-em-canela/

E pra não perder nada:
https://canela.com.br/temporada-de-verao/



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