CIRCUITO JAZZ SÃO DOMINGOS

Ninguém vai saber que na minha cabeça estava a preocupação do display do celular queimando e todas as memórias que eu ainda preciso revisitar uma vez ao dia, daquilo que na memória ainda é minha vida- - a não ser que eu escreva.

Os desafios e um curto-circuito que queria encurtar o nosso Circuito.
Só que graças a jah firmeza se faz e movimento se cria. Co-criado junto fica melhor ainda.

Mas o presente finito foi um fim de semana vivendo a 9ª edição do Circuito Jazz São Domingos.
Afrojazz, e comidinhas nos três atos do evento, tocando a Gastronomia Dayó, da melhor forma, e trazendo pra Casa de Cultura que é o São Dom Dom, opções variadas preparadas com afeto (e correria, no sentido bom e literal da palavra).

Eu acredito que a minha vida atual seja resultado da proposta que as encruzas têm pra mim: se você se move com cautela e adentra os espaços equalizando formas eurocentradas de comunicação, e deixando melhor do que estava quando você chegou, EU te dou portas e abençoo seus caminhos.

É um jogo de SE versus RESULTADO.
É cada resposta que eu dou a tudo aquilo que me acontece.

Agora por exemplo, enquanto escrevo, espero chegar de SP meu melhor amigo, que talvez tenha certeza mas talvez não saiba, que nos últimos seis meses eu redescobri a minha forma preferida de amar - que talvez seja amar o outro como queira ser amado.
Ainda capengando, ainda cheia de dores, ainda tentando, ainda aprendendo a retornar a esse lugar de aprendiz.

O samba enredo da minha escola de samba no próximo carnaval canta:

A c e n d a   t u d o   q u e   f o r   d e   a c e n d e r

Deixa a fumaça entrar
Sobô Nirê Mafá, Sobô Nirê
Evoco, desperto
Nação coroada, não temo o inimigo
Galopo na estrada, a noite é abrigo
Transbordo a revolta dos mais oprimidos
Eu sou caboclo da Mata do Catucá, eu sou pavor contra a tirania
Das matas o encantado
Cachimbo, já foi facão amolado
Salve a raiz do Juremá
Ê juremeiro, curandeiro oh
Vinho da erva sagrada, eu viro num gole só
Catiço sustenta o zeloso guardião
Trago a força da Jurema, não mexe comigo não

E n t r e   a   v i d a   e   a   m o r t e,  e n c a n t a r i a s

Nas veredas da encruza, proteção
O estandarte da sorte é quem me guia, alumia minha procissão
No parlamento das tramas para os quilombos modernos
A quem do mal se proclama levo do céu pro inferno
Toca o alujá ligeiro, tem coco de gira pra ser invocado,
Kaô, consagrado
Rei Malunguinho encarnado, Pernambucano mensageiro bravio
O rei da mata que mata quem mata o Brasil
A chave do cativeiro
Virado no Exu trunqueiro
Viradouro é catimbó
Viradouro é catimbó

Eu tenho corpo fechado
Fechado tenho meu corpo
Porque nunca ando só

.. e talvez ninguém saiba, a não ser que eu escreva, que foram muitos anos - dez - fora do carnaval do Rio, até esse ano e o próximo - que trazem novamente os brilhos e as cores do estar de volta. Mas nunca andando sozinha.
.. talvez ninguém saiba, que há infinitas fotos e vídeos que eu nunca postei dos últimos três anos vivendo em presença. Ou seriam os primeiros trinta e um?
.. talvez ninguém saiba mas eu estou dando o melhor de mim pra continuar viva e vivendo, e pra não pensar em tudo o que eu gostaria de estar fazendo se não fosse aquela, a amizade que ninguém quer ter mas todos irão fazer, com a senhora a morte.
.. talvez ninguém saiba, a não ser que eu escreva, que esse primeiro ano como uma mulher preta viúva, foi um universo desconhecido e paralisante, operante e significativo, desestruturador e restaurador.
Que me senti presa dentro de um apartamento - quando antes morava numa casa da árvore, e nas cachoeiras - mas que nem por um segundo duvido, foi o melhor lugar para me encavernar.
Que me senti estranha quando mesmo um curso que eu pensava ser ideal para mim e para outras mulheres como eu custava R$ 197 para aquelas que possuem o CADUNICO.
Desculpe, não é um valor inclusivo. É falsamente acessível.
Tanto que não fiz o tal curso, e me decepcionei.
Ouvi de outra mulher, num outro contexto, que a vivência que eu propunha "era com valor universitário demais", algo para meninas.
SENHORA, EU JÁ NÃO SOU UNIVERSITÁRIA OU MENINA HÁ 10 ANOS, ME RESPEITE.
Ainda não consigo elaborar esse lugar de privilégio que essas moças, mães ou não, ocupam e não se percebem. Cursos e mentorias de R$ 1.000 ou até R$ 8.000
VOCÊS ESTÃO TIRANDO COM A NOSSA CARA??????? ESSE CURSINHO É PRA QUEM????

E aí adentramos uma outra questão, que é VALORES versus PREÇOS.
Valorizar dignamente um trabalho ou serviço e tornar acessíveis para TODE público.
Valorizar os mais velhos e os mais novos, que trabalhem conosco, trazendo comunicação assertiva não-violenta como chave e "cama elástica" propulsora de vôos mais altos e novas manobras.
Ensinar e aprender.
Talvez por isso eu siga aqui, nessa corpinha de um metro e cinquenta tão gostosin.

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