HOJE RETOMEI A ESCRITA

HOJE RETOMEI A ESCRITA.

E antes mesmo de colocar as palavras em ordem, as frases já estavam dentro de mim, prontas pra sair - e eu ia narrando tudo quase que mentalmente, dentro de minhas sinapses neurais.

Ontem tive o primeiro PCR positivo em dois anos de pandemia. Positivo para COVID-19.
E talvez por isso voltei ao eu-lírico, aquela que escreve.

Hoje pela manhã falávamos sobre como o tempo passa diferente para cada um de nós.
Esses dias sem olfato e paladar me desconectaram do mundo externo e me fizeram prestar atenção apenas aos sentidos internos. As minhas necessidades.
Alex e eu passamos cinco dias longe há algumas semanas. Para mim, foram longos e infinitos cinco dias de ansiedades, preocupações e gatilhos mentais que muito me ensinaram - dentro de meus processos. Nem tudo é gratiluz e namastê.
Para ele, tinham sido apenas dois dias.
Percepções.

Devido ao positivo nos isolamos essa semana.
Entre bolo de chocolate com coco, ovos no café da manhã, muito suco de laranja, feijão preto, sopa de ervilha e arepas, de nada sentimos o sabor, porém de nada nos queixamos.
Eu sinto que estamos imersos nesse tempo. Que apesar de tudo nos escolheríamos.
Ontem eu soltei um: amor que tipo de bar você frequentava? A que festas ia?
(ele disse nenhuma já que não bebe)
Eu pensava onde poderíamos ter nos encontrado se não naquele dia correndo no lago.

Quantas pandemias mais virão?
A farmacêutica que fez o meu teste (e alguns outros cientistas) dizem que muitas.

Quando eu levanto todos os dias para ir trabalhar eu penso: até quando estarei colocando energia neste cargo? Neste hotel? Até quando fará sentido tentar armonizar os ambientes por onde eu passar, dentro do mundo corporativo?

Ainda ontem na farmácia uma atendente disse: "quem tem chefe é índio, na aldeia."
..
Tive de respirar e praticar o silêncio Tukano, quando meu impulso era de responder: "cacique, senhora, ou cacica, é o que os indígenas têm na aldeia."

Novembro de 2021. 09:45h.

Arepas con zanahoria y calabacín para el desayuno.
Não estamos fora do país, mas agora a rede de supermercados Stahl vende harina pan, aqui no sul do Brasil. Muitas coisas mudam rapidamente.

Ontem eu li que o Tupi é uma língua que apresenta o tempo nominal. Onde o verbo não expressa tempo. Em tupi existe o tempo do substantivo, e para isso se usam-se os sufixos RAMA (futuro, promissor, que vai ser) e PUÊRA (passado, velho, superado, que já foi).

YBYRÁ - árvore
YBYRÁRAMA - muda de árvore, ou a futura árvore
YBYRÁPUÊRA -  tronco, toco de árvore, a ex-árvore ou árvore que já foi
 
Esse é um bonito e fácil exemplo de como as linguas se recortam e recortam o mundo de maneira diferente. Em tupi, o movimento no tempo é o movimento das coisas.
Nosso cérebro, assim como o corpo, reage ao idioma e a localização geográfica ao qual está "exposto" ou "inserido".

Enquanto houver movimento o ciclo se refaz.


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