MENSTRUAÇÃO SUSTENTÁVEL
(precisamos falar sobre bioabsorventes)
No dia vinte e quatro de maio, dia da visibilidade menstrual ou "dia da higiene menstrual", fiz um post no instagram falando sobre minha experiência no resgate da ciclicidade, e resolvi trazer a mesma reflexão a quem por alguma razão, chegar até aqui:
Mesmo em tempos de COVID-19 // ano 2020 // nós ainda não falamos sobre isso.
Não como deveria ser falado.
Quantas mulheres que você conhece falam com você sobre menstruar? Sobre lunação? Sobre ciclos? Sobre ginecologia natural e autonomia sobre o seu corpo?
No dia vinte e quatro de maio, dia da visibilidade menstrual ou "dia da higiene menstrual", fiz um post no instagram falando sobre minha experiência no resgate da ciclicidade, e resolvi trazer a mesma reflexão a quem por alguma razão, chegar até aqui:
Mesmo em tempos de COVID-19 // ano 2020 // nós ainda não falamos sobre isso.
Não como deveria ser falado.
Quantas mulheres que você conhece falam com você sobre menstruar? Sobre lunação? Sobre ciclos? Sobre ginecologia natural e autonomia sobre o seu corpo?
A ideia de propagar esse conteúdo "novo" para algumas e já "obsoleto" pra outras, surgiu numa roda de conversa com umas 80 mulheres na semana de oito de março também desse ano, antes da pandemia estourar, numa empresa onde eu trabalhava. Eu me perguntava porque "menstruação, planeta e soluções" não estavam nas pautas, nas discussões. Me perguntava por que ninguém estava falando sobre isso. Por que na semana internacional da mulher os assuntos continuavam sendo os desafios de ser mulher na sociedade, maquiagem e skincare, e competitividade no mercado de trabalho. Percebi que nos faltava sair do raso.
Enquanto escrevo, como não existem coincidências, chega através dos correios o meu mais novo investimento a longo prazo: meu primeiro absorvente de pano.
Há quem defenda que todo o glamour e design do produto possam ser facilmente substituídos por uma toalhinha dessas de mão que a gente leva pra escola quando é criança, ou ainda, por um paninho de algodão destinado para o mesmo fim.
Meus relatos, e muito provavelmente essa seja uma constante, partem de um ponto de vista pessoal e de vivências que me fazem ver cada situação desde um lugar mais amplo.
Comprar da Lua de Sangue foi significativamente importante. Apoiar a produção manual, não industrial, apoiar uma mulher ecoempreendedora de FATO. Apoiar uma mulher em tempos de pandemia - e com frete acessível - e que chega em dias de reflexão.
Meu bioabsorvente foi confeccionado pelo coração e pelas mãos da Andrea. Feito à mão. Reutilizável. Made in São Paulo. Com bioembalagem, gerando zero lixo e impactando no mínimo. Fora a textura maravilhosa, os valores reais do produto, a funcionalidade incrível, e as estampas QUE COISA MAIS LINDA.
// @_luadesangue
Há quem defenda que todo o glamour e design do produto possam ser facilmente substituídos por uma toalhinha dessas de mão que a gente leva pra escola quando é criança, ou ainda, por um paninho de algodão destinado para o mesmo fim.
Meus relatos, e muito provavelmente essa seja uma constante, partem de um ponto de vista pessoal e de vivências que me fazem ver cada situação desde um lugar mais amplo.
Comprar da Lua de Sangue foi significativamente importante. Apoiar a produção manual, não industrial, apoiar uma mulher ecoempreendedora de FATO. Apoiar uma mulher em tempos de pandemia - e com frete acessível - e que chega em dias de reflexão.
Meu bioabsorvente foi confeccionado pelo coração e pelas mãos da Andrea. Feito à mão. Reutilizável. Made in São Paulo. Com bioembalagem, gerando zero lixo e impactando no mínimo. Fora a textura maravilhosa, os valores reais do produto, a funcionalidade incrível, e as estampas QUE COISA MAIS LINDA.
// @_luadesangue
Existem algumas marcas também incríveis no mercado: como a Ecoabs e a Korui.
Ambas são marcas mais conhecidas, que disponibilizam além de bioabsorventes conteúdo e informação. E parte da renda de suas vendas vai para o social. Para mujeres que no puedan comprar. Eu fiz toda uma pesquisa, antes de decidir em qual marca eu apostaria e a qual delas destinaria o meu dinheiro. Quando comecei a pesquisar li sobre projetos que apoiam mulheres venezuelanas, li sobre projetos que apoiam mulheres em situação de vulnerabilidade nos estados que fazem fronteira com países em conflitos políticos. E quando comecei a calcular sobre o que seria melhor no quesito custo-benefício percebi que o maior problema de compras de grandes marcas, fora apoiar o fluxo capitalista e descarte incorreto de resíduos, era o valor do frete. E isso me fez cair no tema da acessibilidade: quem é o público alvo dessas empresas? Para quem esses absorventes ecológicos estão sendo vendidos? Quem paga frete nessa faixa de preço?
Quando eu me organizava pra começar a viajar em 2014, me deparei com muita coisa que eu nem imaginava que existia. Principalmente nessa questão de materiais de higiene, e cuidado pessoal, em países como Cuba ou Venezuela. Na época eu optei pela melhor opção para o meu ciclo e para o país em que eu estaria expondo o meu corpo à viver, e optei então pelo coletor menstrual da Inciclo (e deixo também essa nota pessoal: vale muito a pena).
Acessei essa temática há seis anos atrás, quando eu me preparava para viajar e comprei o meu primeiro coletor, e tudo era um TABU. Lembro que encontrei no facebook uma revendedora da minha cidade e nos encontramos num supermercado da rede Carrefour, na altura da BR-101 ali pelo Barreto, no Rio de Janeiro. Na época minha mãe me acompanhou por segurança - e confesso que até hoje acho que ambas estávamos muito curiosas para ver de perto essa "novidade".
Eu não imaginava falar disso abertamente apenas HOJE. Eu não falei disso com ninguém exceto minha mãe há anos atrás. E se demorou esse tempo todo pra que eu pudesse escrever pra de alguma maneira te fazer pensar sobre isso, observe só o tamanho do enigma desse não-TABU e desse nicho, de maneira geral, que ainda nem dispõe de tantas marcas ou de tantos discursos sociais e de conexão com nosso sangue e nosso ciclo, assim.
Acessei essa temática há seis anos atrás, quando eu me preparava para viajar e comprei o meu primeiro coletor, e tudo era um TABU. Lembro que encontrei no facebook uma revendedora da minha cidade e nos encontramos num supermercado da rede Carrefour, na altura da BR-101 ali pelo Barreto, no Rio de Janeiro. Na época minha mãe me acompanhou por segurança - e confesso que até hoje acho que ambas estávamos muito curiosas para ver de perto essa "novidade".
Eu não imaginava falar disso abertamente apenas HOJE. Eu não falei disso com ninguém exceto minha mãe há anos atrás. E se demorou esse tempo todo pra que eu pudesse escrever pra de alguma maneira te fazer pensar sobre isso, observe só o tamanho do enigma desse não-TABU e desse nicho, de maneira geral, que ainda nem dispõe de tantas marcas ou de tantos discursos sociais e de conexão com nosso sangue e nosso ciclo, assim.
Me pego pensando quais políticas públicas poderiam trabalhar essa necessidade que sinto quando penso em mulheres que não tenham acesso a água encanada, e consequentemente não possam ter absorventes ecológicos, por exemplo. Afinal, como elas iriam lavar?
A reflexão é profunda. Diferente. Necessária. E revolucionária.
Abarcar o todo implica alcançar todas as realidades.
De repente algum bioconstrutor me lê e cria a partir do bamboo um "captador de água da chuva" que possa ser disponibilizado juntamente com o bioabsorvente dentro de uma comunidade periférica ou quilombola, não custa sonhar não é mesmo? vamos juntes? rs
Abarcar o todo implica alcançar todas as realidades.
De repente algum bioconstrutor me lê e cria a partir do bamboo um "captador de água da chuva" que possa ser disponibilizado juntamente com o bioabsorvente dentro de uma comunidade periférica ou quilombola, não custa sonhar não é mesmo? vamos juntes? rs
Acredito que tudo requer experimentação, prática, e consciência. Falar de menstruação sustentável para a maioria das mulheres que usa absorventes descartáveis porque "sempre foi assim" pode ser meio confuso inicialmente. Nunca paramos para pensar sobre essas escolhas ou porque elas existem.
Você sabe quando surgiu o absorvente descartável, por exemplo?
Vem comigo nessa cronologia: na primeira Revolução Industrial (fim do século dezoito) até a década de 60 do século vinte, pequenos pedaços de tecido dobrados eram utilizados pelas mulheres para absorver o fluxo menstrual. As chamadas “toalhas higiênicas” eram costuradas pelas próprias usuárias e, após o uso, lavadas e reutilizadas.
A ideia do "descarte da toalha higiênica suja de sangue" surge quando as enfermeiras que estavam a serviço na segunda guerra mundial percebem que seria mais prático se elas utilizassem a gase hospitalar, utilizada para cuidar de ferimentos dos soldados, ao invés de ter de dedicar um tempo específicoque elas não dispunham, em meio a guerra, para seus "paninhos".
A ideia do "descarte da toalha higiênica suja de sangue" surge quando as enfermeiras que estavam a serviço na segunda guerra mundial percebem que seria mais prático se elas utilizassem a gase hospitalar, utilizada para cuidar de ferimentos dos soldados, ao invés de ter de dedicar um tempo específicoque elas não dispunham, em meio a guerra, para seus "paninhos".
O primeiro absorvente descartável chegou ao Brasil em 1930, mas foi na em meiados de 1950 que ele começou a se popularizar. Representando "maior conforto e praticidade", a novidade da indústria de consumo da época, foi estampada em várias propagandas relacionando as mulheres que usavam os absorventes à ideia de modernidade e a como elas seriam "sempre livres" (vale o trocadilho rs)
Hoje em dia, nós mulheres contamos com diversos absorventes descartáveis industrializados, que atendem a várias necessidades (protetor diário, noturno, pós-parto, entre outros) e as mais diversas preferências de suas fiéis consumidoras (com abas, sem abas, ultrafinos, que inibam odor, e etc). É um produto básico que se faz presente na rotina de todas as mulheres que menstruam.
Estima-se que a mulher faz uso de cerca de dez absorventes descartáveis em cada ciclo menstrual, e cerca de dez mil a quinze mil da primeira à última lunação: da puberdade até a menopausa. E como no Brasil não existe reciclagem para esse tipo de resíduo, e poucos são os países que de fato o fazem, esses absorventes acabam indo parar em lixões e aterros sanitários, causando um grave e irreversível problema ambiental.
#nãoexistefora
#nãoexistefora
É importante ressaltar que, em alguns lugares do mundo, há mulheres que não têm acesso, como dito anteriormente a água, ou ainda, não podem pagar pelos absorventes menstruais (sejam eles descartáveis ou ecológicos) sendo o acesso a esse item algo limitado, e por mais que isso possa soar bizarro, um artigo de luxo. Seja por habitarem localidades isoladas e distantes de cidades ou por falta alternativas, muitas mulheres em consequência disso, acabam deixando de ir à escola ou ao trabalho no período menstrual.
Entenda que a tecnologia do absorvente íntimo descartável se assemelha à das fraldas descartáveis, com o uso de árvores e petróleo como matérias-primas para sua fabricação, e em seu composto celulose, poliéster, polietileno, propileno, adesivos termoplásticos, papel siliconado, polímero superabsorvente, algodão, agentes controladores de odores, e químicas diversas que fazem com que o fluxo do nosso sangue seja maior - para que assim a gente menstrue durante mais dias e precise de mais absorventes. Comprando mais, somos peças fundamentais para que essa indústria e esse comércio "lucro a qualquer custo" continue se fortalecendo as nossas custas.
Ninguém falou pra mim que diferente dos descartáveis que contém químicos que alteram o pH da vulva e plástico, os ditos absorventes ecológicos são a solução: pra nós, e pro mundo. E justamente por isso eu tô aqui, falando pra você.
É a não retenção de conteúdo. É a alma facilitadora.
É a não retenção de conteúdo. É a alma facilitadora.
Precisamos falar sobre menstruação sustentável em todos os lugares e com todas as mulheres. Falar sobre soluções em saúde, ginecologia natural, meio ambiente, economia, baixo impacto, consumo consciente, comércio justo, modelos de trocas, modelos de conscientização.
Da puberdade à menopausa uma mulher tem em média 450 ciclos menstruais.
Nessa conta são em média 10.000 absorventes, 200kg de um tipo específico de lixo que não vai pra lugar nenhum e no vivem cerca de 65 milhões de mulheres férteis (em idade).
Nessa conta são em média 10.000 absorventes, 200kg de um tipo específico de lixo que não vai pra lugar nenhum e no vivem cerca de 65 milhões de mulheres férteis (em idade).
Juntas somos responsáveis por aproximadamente 15 bilhões de lixo, todo ano.
Se eu posso falar para mil ou para uma mulher, que vai falar pra mais uma e pra outra, já tá valendo, e essa é a corrente.
Deixo com amor, esse pensamento crítico.
E se quiser presentear alguma mulher na sua vida, dê a ela o acesso a esse tipo de informação e se possível, um bioabsorvente.
♥️ um sonho, uma realidade!
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