CARTA AO AMOR

Querido amor,


Há tempos te procurei nos lugares todos. Hoje aguardo ser encontrada. No melhor dos agoras.

Tenho pensado na gente, num vinho e numa bossa, mais vezes do que admitiria aqui nessa carta.

Ouço, enquanto escrevo - para talvez um dia te mostrar quando tiver te encontrado - a peça Aflitos do Sexteto Sucupira, e penso que se te encontrei, provavelmente estamos bailando essa mesma canção agora - em algum espaço-tempo de um futuro presente.

Imaginar você é quase impossível. Imagina todas as retinas, e todas as almas, e todos os idiomas que você pode falar - e você tem essa mania mesmo de se dissolver nessas coisas todas.
Nos países que fui, e te encontrei, você tinha cores e formas diversas.
Você tinha cada ritmo diferente .. cada dança divertida ..
 
Cada piada que nem sei se entendi, mas que me fez rir abeça.

Às vezes penso que posso já ter te encontrado um par de vezes:
naquele desconhecido no transporte público, ou em algum acampamento da juventude.
Todo dia penso te encontrar pelo menos uma vez, numa pequena fração de segundo.

Quando sinto que já nos conhecemos. Que a gente se encontra.
Que você existe em cada centelha divina no outro.
Que você também viu o mesmo raio de sol que eu hoje pela manhã.
Que você era o próprio sol.
Que você também se encantou com algum pássaro, que fez graça na janela, num momento muito específico do dia. Que você era o próprio pássaro.
Que você tomou entre dois e seis cafés.
E que se foi um dia bom, equilibrou tomando entre um café e outro, água.
Fez yoga, ou pedalou, ou correu - ou pelo menos se alongou. Porque sabe e entende que o corpo é um veículo. Veículo que vibra. Que trabalha. E que permite vibrações. Que nos permite tudo.
Que dança numa multiplicidade de partículas, assim como seus átomos, células, e dna, completamente diferentes dos meus, mas que nas tantas experimentações que compartilhamos nesse existir - nesse plano comum de encontros terrenais - permite que a gente se conheça.

Nos últimos anos percebi que a vida na verdade, é um eterno aprender de coisas que não sabemos.
E a gente aprende nos detalhes.

Olhando hoje pro passado e pro futuro, onde não existo mas estou, vejo que todos os momentos que trazem o agora são repletos de pequenos momentos precedidos de decisões. Todas as decisões com consciência ou não, nos levam ao próximo momento.

Hoje por exemplo, decidi escrever pra você.

Organizar as ideias para mostrar a mim mesma que não estou tão desacreditada de você assim.

Espero, que nossas vontades e percepções sobre a vida coincidam nesse balanço de cordas e frequências vibracionais. Espero que com os pés no chão nossas almas sintam a terra. E que com os olhos d'agua nosso pulsar nos leve a não duvidar que nos encontramos. Espero que como análogas, nossas mentes percebam o que vem no momento seguinte, antes dele acontecer. Espero que a vida some todas nossas habilidades e potências, transformando o que somos juntos numa melhor versão de nós mesmos para o todo.

Que el mundo inmenso de mi corazón, tenha sido percebido aí fora por você também: nos seus ritmos, em seus entornos, suas vivências, seus aprendizados e em seu olhar.

Que não haja a necessidade do outro, mas a real completude da presença.

Que façamos música, arte, amor, sexo, revolução.
Que vivamos um dolce far niente, às vezes.

E que a cada estação do ano, ou a cada giro galáctico em torno do sol, nossa memória de quem somos, de nossos ancestrais, e do porque escolhemos equalizar juntos essa mesma frequência de agora, se faça mais certeza.

Que sejamos cinéfilos uma vez na semana. Que a gente se mude pra outras cidades.
E que debates incríveis terminem com nossas respirações no mesmo compasso.

Que a cada dois dias, quando a gente for uma nova pessoa, que a gente se conheça de novo e se apaixone de novo, e que nossas almas não se cansem de se encantar nesse eterno tantra.



Com afeto,
eu

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